O que é o Papa? Por que o bispo de Roma é o chefe da Igreja?
Hoje vamos ver como evoluiu a instituição do papado.
O mundo católico vive hoje um momento de silêncio e expectativa.
Com a morte do Papa Francisco e sua recente sepultura, a Sé de Pedro está vacante. Em breve, os cardeais se reunirão em conclave para eleger aquele que será o novo sucessor dos apóstolos, sinal da unidade da Igreja e vigário de Cristo na terra.
Mas como se formou a missão do Papa como chefe da Igreja?
O Papa não é só um líder administrativo ou uma autoridade política. Ele é, antes de tudo, o sinal visível da unidade da Igreja na fé, na caridade e na comunhão. Como sucessor de Pedro, o Papa é chamado a confirmar seus irmãos na fé (Lc 22,32) e a guardar o depósito da Revelação, transmitindo-o sem alterações. Sua missão é pastoral: guiar o rebanho de Cristo, fortalecer os vacilantes, buscar os que se perderam, e ser um ponto de referência firme em meio às tempestades do mundo.
A história nos mostra que o papado, como tantas realidades da fé, amadureceu aos poucos, sob a ação do Espírito Santo e as circunstâncias da História.
O Evangelhos mostram que, desde o princípio, Pedro aparece como figura central
entre os apóstolos: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18). Sua liderança é evidente: ele é porta-voz dos apóstolos e o primeiro a testemunhar a Ressurreição.
No entanto, nos primeiros séculos, a Igreja era descentralizada e cada bispo pastoreava sua comunidade local.
São Pedro evangelizou Roma, tornando-se o líder dos cristãos da cidade. E lá foi martirizado.
Há quem conteste que Pedro tenha ido a Roma. Mas há muitas evidências. Uma delas é este versículo da Primeira Epístola de São Pedro: “A igreja escolhida da Babilônia saúda-vos, assim como também Marcos, meu filho.” (1Pd 5,13)
Que outra cidade seria “Babilônia”, senão Roma?
Além disso, é antiquíssima a tradição de que São Pedro foi martirizado e enterrado em Roma: ela remonta desde, pelo menos, o século II. No século IV, Constantino ergueu a primeira basílica sobre o local onde acreditava-se estar o seu túmulo. Em 1950, o Papa Pio XII divulgou que escavações realizadas no Vaticano tinham encontrado um túmulo - seria o de São Pedro.
Portanto, está estabelecido desde os primeiros tempos que Sâo Pedro foi o primeiro bispo de Roma. Por este motivo, seus sucessores mereceram dos seus pares um respeito maior, já que eram os sucessores de Pedro.
Começava o “primado” (isto é, a proeminência) do bispo de Roma.
Se, no início, esse primado era apenas uma honra maior, logo ele se transformou em liderança.
Já no século II, cartas como a do Papa Clemente de Roma mostram o bispo de Roma intervindo em outra Igreja (Corinto) — um sinal precoce de autoridade moral reconhecida, embora ainda não de jurisdição formal universal.
Nos séculos III e IV, durante as perseguições, o bispo de Roma passou a ser visto como símbolo de ortodoxia e de unidade.
O Concílio de Nicéia (325) reconheceu a precedência de Roma, Alexandria e Antioquia entre todas as sedes episcopais, mas neste momento, Roma ainda era "prima inter pares" — a primeira entre iguais.
O verdadeiro salto aconteceu com o Papa Leão Magno (440–461). Ele formulou com clareza a ideia de que o Papa era o sucessor de Pedro, e que a autoridade de Pedro continuava na Sé de Roma. No Concílio de Calcedônia (451), seus ensinamentos foram recebidos com a famosa aclamação: "Pedro falou pela boca de Leão!".
No final do século V, o Papa Gelasio I (492–496) formulou a famosa doutrina das "duas espadas": a distinção entre o poder espiritual (Igreja) e o poder temporal (Estado), mas reafirmando que a autoridade espiritual era superior. O papa, como chefe da Igreja, tinha primazia sobre qualquer poder terrestre em questões de fé.
No século IX, o Papa Nicolau I enfrentou bispos e reis da França para afirmar que Roma tinha a palavra final em questões de fé e moral. Contra sínodos locais e interesses políticos, consolidou o primado papal: onde Pedro fala, a Igreja se cala e obedece.
Em 1075, o Papa Gregório VII redigiu os Dictatus Papae: 27 afirmações que reforçavam o primado absoluto do Papa na Igreja. Pela primeira vez, a autoridade papal foi proclamada com tal clareza: o Papa pode depor imperadores e ninguém pode julgá-lo.
Nessa, altura, os papas já tinham o comando de toda a Igreja no Ocidente. Sua liderança não só não era mais contestada: ela era proclamada por todos e aceita completamente dentro da Igreja - exceto no Oriente, que, em meados da Idade Média, acabaria se separando.